segunda-feira, 9 de novembro de 2015

O futebol brasileiro e sua falsa regionalização



Maior campeão do Amazonas, Nacional foi o último clube
não paraense a jogar a Série A pela região Norte em 1986
O futebol brasileiro nunca foi regionalizado, em 1971, das vinte equipes participantes, apenas quatro não eram originárias do Sul-Sudeste e entre as restantes, nenhuma era do Norte ou do Centro-Oeste. A região Norte só foi participar na edição seguinte com o Nacional-AM, já a Centro-Oeste apenas em 1973, com o Campeonato Brasileiro inchado com quarenta equipes na disputa. 

Quando começaram os pontos corridos em 2003 até a edição desse ano, 39 equipes jogaram o Brasileirão e delas, apenas doze não são do Sul-Sudeste. Entre essas equipes, três são do Centro-Oeste (Brasiliense-DF, Goiás-GO e Atlético-GO), uma do Norte (Paysandu-PA) e oito do Nordeste (Ceará-CE, Fortaleza-CE, América-RN, Santa Cruz-PE, Náutico-PE, Sport-PE, Bahia-BA e Vitória-BA). No total contraponto temos o estado de São Paulo, que sozinho teve dez equipes na elite desde então, sendo representados por Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Portuguesa, Santos, São Caetano, Santo André, Guarani, Ponte Preta e Grêmio Barueri. Esse ano tivemos um recorde negativo, apenas duas equipes de fora da região Sul e Sudeste, Sport-PE e Goiás-GO, respectivamente, estão atuando na Série A, enquanto estados sem muita representatividade futebolística como Santa Catarina tiveram quatro clubes (Joinville, Avaí, Figueirense e Chapecoense) o representando.

A presença dos torcedores conhecidos por 'mistos', que torcem para os times do G12 em detrimento dos clubes locais ou da região, ou até pelos dois conta muito. No Centro-Oeste, fora o estado de Goiás, estados como Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, além do Distrito Federal, torcedores locais sequer apoiam para os clubes de suas cidades, o que dificulta muito ascensão dessas equipes que sem público, patrocínio, visibilidade e apoio, sobrevivem apenas no estadual em maioria, sem almejar grandes feitos nos torneios nacionais. O Centro-Oeste só teve alguma de suas equipes entre os quatro do Brasileirão, apenas duas vezes, com o Operário-MT em 1977 e o Goiás em 2005, ambos em terceiro. Já o Norte que já chega a dez anos sem um clube sequer na elite do futebol nacional, com o rebaixamento do Paysandu em 2005, se vê completamente dependente do Pará para ter alguma visibilidade. Foi com o Nacional-AM, a última participação de um clube do Norte que não era originário do Pará, no distante ano de 1986, com os torneios ainda regionalizados. 

O Nordeste é o mais tradicional entre as 'regiões pequenas', mas desde o título do Bahia em 1988, viu apenas o Vitória duas vezes entre os quatro, sendo vice em 1993 passando por grupos regionais e nas semifinais em 1999 caindo para o Atlético-MG. Para piorar, desde 2009, pelo menos um nordestino está entre os quatro rebaixados. Nesse século, ou seja, de 2001 até hoje, em apenas quatro edições não houve um nordestino rebaixado, juntando com a já permanência do Sport-PE nesse ano. Dos 9 clubes nas três divisões que já subiram, apenas três não são do Sul-Sudeste, o Remo-PA, Ríver-PI na D e o Vila Nova-GO na C. Nesse momento a dupla Ba-Vi está aumentando a conta para cinco dos doze, mas apenas o Botafogo-RJ foi garantido entre os acessos da B.

Como mudar isso? É difícil, os clubes do Sul-Sudeste tem mais força pelo poderio econômico e desenvolvimento social de suas regiões, as empresas locais abraçam as equipes das cidades, coisa que pouco acontece nas demais regiões. Com o avanço dessas equipes, a torcida local normalmente abraça a equipe da cidade em detrimento das de fora, mesmo muitas vezes tendo um time maior também como primeira ou segunda. Estados como Minas Gerais, Paraná e Santa Catarina, mesmo tendo muitos 'mistos', os clubes de fora são segunda opção nas cidades que possuem futebol mais tradicional e desenvolvido, as torcidas dessas cidades apoiam mais seus clubes.

A CBF tem culpa nisso, as cotas irreais de televisão, a falta de visibilidade e organização das Séries menores, o abandono das federações estaduais, tudo isso acabou a "pseudo-regionalização" do futebol nacional, se é que algum dia existiu. Não entendam errado, Norte, Nordeste e Centro-Oeste não irão rivalizar com Corinthians, Flamengo, São Paulo, Cruzeiro, Inter e etc, mas é importante ver ações para pelo menos vermos uma melhor distribuição regional no futebol nacional.

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