domingo, 26 de abril de 2020

Barbosa e a sentença do goleiro negro

Matéria com barbosa na Gazera Esportiva
"No Brasil, a pena máxima (de prisão) é de 30 anos, mas pago há 40 por um crime que não cometi" - Uma das frases mais célebres de Barbosa. Em um país racista como o Brasil, o goleiro ídolo do Vasco sofreu até o dia de sua morte com a culpa do Maracanazzo. Atribuem a derrota à Barbosa, mesmo quando os registros falam de um Brasil acuado, assustado, dizem até que quando o Uruguai empatara o jogo, conseguia se ouvir Obdulio Varela gritando e instruindo seus companheiros tomando o silêncio das 150 mil pessoas presente. Barbosa foi penalizado e amaldiçoado. Foi chamado de pé frio, dizem as más línguas que até foi proibido de visitar os jogadores da Seleção Brasileira antes do jogo do Uruguai pelas Eliminatórias, porque poderia trazer má sorte. Goleiros negros sofreram por décadas e até hoje sofrem mais por essa desconfiança, algo aumentado em 1950. Dida sofreu por anos, teve carreira no Brasil e na Europa bem mais regular e consagrada que seus dois contemporâneos, mas é muitas vezes menos lembrado que ambos. A diferença? Só olhar a pele de cada um. Os goleiros negros sofreram (e sofrem tanto) que até Edílson, um ex-jogador negro comentou na televisão: "problema que goleiro negão uma hora erra". Eu mesmo ouvia na infância um dos ditados que saia mais ou menos assim: "goleiro preto quando não caga na entrada, caga na saída", racismo descarado. No dia do goleiro, não podemos esquecer da pena que ainda cai sobre eles. Caiu sobre Barbosa, Dida, Jéfferson e irá cair para os que irão vir, do racismo velado (às vezes nem tanto), a pena que Barbosa carrega e infelizmente é paga pelos seus sucessores de forma injusta.
Por Luca Laprovitera
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sábado, 18 de abril de 2020

FUTEBOL E COVID-19

Imagem: Correio 24 Horas
Hoje completamos exato 1 mês sem futebol no Brasil por conta da pandemia do Covid-19. O Corona Vírus que assola o mundo adiou UEFA Euro, Olimpíadas e Copa América para 2021, e não deve parar só por aí. Torneio nacionais e internacionais estão paralisados por todo planeta e sem a menor ideia de quando irão voltar. Vou falar de alguns tópicos que são realidade agora e outros que devem ser em breve.
TEMPORADA EUROPEIA No dia 2 de abril, a Liga Belga foi cancelada e o Club Brugge declarado campeão com o consenso de todos os clubes da liga. A UEFA inclusive ameaçou suspender de suas competições pela decisão, porém ainda não oficializou (e provavelmente sequer irá).
Já a Bundesliga ensaiava o retorno no fim de maio/início de junho dos jogos restantes, mas sem torcida. A ideia foi rechaçada pelo governo, inclusive suspendendo qualquer atividade esportiva até o dia 31 de agosto, e tendo alas considerando só retornar em 2021, algo que deve ser seguido por praticamente todo o continente se houver bom senso.
TEMPORADA NO BRASIL No Brasil, os clubes estão férias até o fim desse mês e se fala em retornar no próximo mês as competições, considerando portões fechados. O próprio presidente do país, Jair Bolsonaro, se portou a favor e disse para ouvirem os sindicatos de jogadores. O SAFECE, sindicato no Ceará, confirmou que concorda com a preocupação de Bolsonaro, mas pediu cautela e que irá esperar informações dos órgãos de saúde, mas que se a situação permanecer, um protocolo de segurança poderia ser criado.

Especialistas acham irreal pensar em futebol no Brasil antes de Agosto ou Setembro. O crescente número de casos, a imensa sub-notificação e o fato da doença ter números altos sem ter chegado ao pico, só deixam mais distante termos um retorno em breve. Mesmo retornando de forma tardia, a possibilidade de não termos jogos com público em 2020 é bem real e bastante discutida.
SAÚDE DOS JOGADORES E FUNCIONÁRIOS Uma ação de jogo envolve ao menos 200 pessoas entre atletas, comissão, funcionários dos clubes, funcionários do estádio, agentes de segurança, arbitragem e federação. Mesmo que a maioria dos jogadores não estejam no grupo de risco (sim, existem atletas diabéticos e até mesmo hipertensos), técnicos, membros de comissão e de outras áreas estariam a se colocar em risco.

Aos 26 anos, o argentino Paulo Dybala, foi testado positivo e falou das dores musculares e da falta de ar, não aguentava 5 minutos de treino sem sentir extrema fadiga. Mesmo em alto rendimento e com preparo físico, poderíamos ter um pico de infecções entre jogadores, alguns podendo inclusive ter danos permanentes no pulmão e em outros órgãos, já que é um dos efeitos do vírus.
FINANCEIRO Talvez a questão mais debatida até aqui. No início da pandemia, o técnico italiano Carlo Ancelotti comentou que ao fim da doença teríamos um futebol mais parecido com sua origem. De fato, com apenas 1 mês sem atividade, os clubes começam a sentir o aperto financeiro. Na Escócia, os clubes da Premiership (Primeira Divisão) estão desesperados e alguns até falam em falência caso a quarentena permaneça.

De acordo com o site Transfermarkt, todos os 100 clubes mais valiosos do planeta perderam substancial valor de mercado. A Premier League perdeu mais de 2 bilhões de euros em valor. A crise não afeta apenas na Europa, no Brasil o caminho é o mesmo. Patrocinadores e fornecedores de material não pagaram parcelas, clubes perderam acordos, não só pequenos, o Flamengo perdeu o Azeite Royal (que também rompeu com Botafogo, Fluminense e Vasco) e tem parcelas da Adidas à receber, sem nenhuma expectativa de normalização.

Além disso, as cotas de transmissão estão paradas e não serão pagas em caso de não terem partidas jogadas. Com o calendário ficando cada vez mais apertado, até jogos a cada 48 horas são debatidos (contra a vontade dos jogadores), mas parece inevitável um achatamento do Brasileiro ou uma remodelação entrando em 2021. Se houver um menor número de jogos, as cotas televisivas sofrerão uma diminuição substancial, já que são pagas por número de jogos.

Problema maior ainda terão clubes menores e de interior que vivem de parcerias com governos, especialmente municipais. Com o avanço do Covid, é possível que essas parcerias sejam terminadas indefinitivamente e à exemplo de Santo André, onde o Bruno José Daniel virou hospital de campanha, os estádios atendam as necessidades de saúde da população.

Para os clubes que vivem do Sócio Torcedor e venda de materiais, o problema será a condição do torcedor em manter sua fidelidade ao clube. Entrando no 2º mês de quarentena, a população começa a sentir cada vez mais os efeitos da grande crise econômica que virá pela frente e o futebol deixará de ser prioridade. O Fortaleza anunciou uma Rede de Proteção em quem pagar esse mês, ganhará mais 2 de graça no Sócio.
CONTRATOS E CONTRATAÇÕES O fato é que a redução de salários é uma necessidade e não irá parar por aí, os clubes devem reduzir os valores ainda mais em breve e para os jogadores não haverá opção, ou será isso ou não receber absolutamente nada. Alguns clubes falam em contratação e à exemplo do Cruzeiro, até aproveitaram esse período para fechar com jogadores, como a Raposa fez com Régis.

Os clubes no momento não tem a menor expectativa de normalização das contas e se não repensarem os contratos rapidamente, terão problemas futuros. Com o avanço da doença, as dívidas, a ideia é que só consigamos um senso de normalidade financeira no futebol por volta 2022/2023, afinal a ideia é entrar e sair de quarentenas até a descoberta e distribuição em massa da vacina, o que ainda deve levar ao menos 1 ano. Com a queda de receita no futebol da Europa e da Ásia, grandes vendas não devem acontecer nessa janela ou até nas próximas duas ou três.

Qualquer clube responsável nesse momento deve estar revendo contratos com seus profissionais, bolando alternativas para se ter dinheiro, evitando gastos extras e já planejando pela grande chance de algo similar acontecer em 2021.

FUTEBOL PÓS-QUARENTENA Ontem, o Executivo de Futebol do Sampaio Corrêa, Juliano Camargo, falou em um seminário chamado "Footalk", sobre as dificuldades da malha áerea brasileira em condições normais e que não fazia ideia de como será após o fim da pandemia com aviões parados por todo país e a crise gigantesca que enfrentarão por conta da falta de voos agora e depois, pela população precisar de alguns (bons) meses para se reerguer minimamente na economia.

Além disso, com problemas na economia significa que se os ingressos e sócios permanecerem no mesmo valor, teremos menos pessoas no estádio e menor renda, além de que tentando organizar as contas, patrocínios não pagarão tanto e serão ainda mais escassos do que já são (acredite, são bem difíceis de se encontrar por um valor justo).
CONSIDERAÇÕES FINAIS O fato é que teremos mudanças substanciais no futebol (e no esporte em geral) nos próximos meses. Estádios com portões fechados, uma pausa nas contratações e salários milionários, clubes com arrecadações bem menores (e outros gastando o que não tem, prometendo o que não devem e pagando na frente com juros na frente) e um marketing mais voltado ao que podemos fazer pelos clubes do que o clube pode nos ofertar, essas devem ser realidades em um futuro mais próximo. Será que irá voltar ao que conhecíamos até mês passado? Difícil dizer, porém no imediato, parece uma volta ao passado de forma forçada.

Por Luca Laprovitera  Facebook