sexta-feira, 27 de novembro de 2015

O Fenômeno em cinco momentos


Duas vezes melhor do mundo, Ronaldo vinha nos últimos meses lutando contra o seu próprio corpo, leves contusões vinham atrapalhando sua temporada. Era o dia 12 de Abril de 2000, primeira final da Copa da Itália no Estádio Olímpico de Roma. Ronald, seu primeiro filho havia nascido exatamente uma semana antes, a felicidade tomava o jogador. O brasileira entrava em campo aos 13 minutos do 2º tempo, seis minutos mais tarde recebe uma bola de frente para o marcador português Fernando Couto, avança, corre, dá a primeira e única pedalada antes de cair no chão. O choro é instantâneo, por conta de problemas físicos, o atacante só havia feito oito partidas contando com aquela até então em um pouco menos de nove meses de temporada, na anterior só tinha jogado metade das partidas, levantavam-se muitas suspeitas desde a convulsão na final da Copa de 1998.

Para muitos, a carreira de Ronaldo acabava ali. O choro inspirava toda a dor que o jovem jogador, de até então 23 anos. O Fenômeno que encantou tantos com seus dribles maravilhosos, velocidade e explosão de aterrorizar qualquer zagueiro, acabara ali, sentado em campo, assistido por 35 mil torcedores e milhões de fãs mundo afora. O coração do torcedor brasileiro se partia, em ver seu ídolo cair diante de seu próprio corpo.


Sem jogar a temporada 2000-2001, Ronaldo volta no fim da 2001-2002, jogando as partidas finais e quase levando a Inter ao título do Calcio depois de treze anos. Ainda sim, precisava provar para o mundo que estava de volta depois da final da Copa quatro anos antes. Mesmo com a pressão nacional para a convocação do baixinho Romário, Luis Felipe Scolari banca Ronaldo como o principal centroavante brasileiro, levando Luizão como seu reserva. Foram sete jogos e oito gols, sendo dois na grande decisão. Não tinha a mesma habilidade, mas o faro de gol ainda existia, bem melhor posicionado dentro da área, dribles em velocidade, viraram rápidos e curtos, um estilo de jogo menos físico e mais inteligente, talvez não tão encantador, mas mais competente, foi assim que veio o terceiro prêmio de melhor do mundo, a artilharia e o título da Copa do Mundo. Ronaldo estava de volta e tinha de vez o seu lugar no coração dos brasileiros.


Criticado pelos brasileiros por estar fora de forma na Copa de 2006, chega ao Milan cheio de desconfiança e vários problemas físicos. O palco era conhecido, o estádio San Siro-Giuseppe Meazza. A partida contra o Livorno no dia 13 de Fevereiro de 2008, o atacante agora com 31 anos, rodado e com experiência entra aos 11 minutos do segundo tempo no lugar de Alberto Gilardino. Ronaldo só esteve em campo por um minuto, quando em uma tentativa de saltar para uma cabeceada, ele sentiria o joelho esquerdo. Terminava ali a saga dele no Milan. Sem contrato renovado, com um histórico de contusões, problemas físicos e extra-campo badalados, parecia que dessa vez sim, era o fim para Ronaldo.


 Depois de alguns meses treinando pelo Flamengo, Ronaldo "traiu" o clube do coração e assinou pelo Corinthians. Recém-promovido da Série B, o Timão prometia um grande ano com sua equipe que havia conquistado com facilidade à Segunda Divisão e sido vice-campeã da Copa do Brasil perdendo para o Sport Recife no gol fora de casa na decisão. O Fenômeno estreou de forma discreta contra o Itumbiara no dia 4 de Abril pela Copa do Brasil, mas seria quatro dias depois que a história dele seria novamente refeita. Visivelmente fora de forma, o atacante entrou aos 18 minutos do segundo tempo, o Palmeiras que tinha a melhor campanha vencia o jogo por 1x0, até que aos 47 minutos da etapa final, Douglas cobra escanteio e Ronaldo, de cabeça empata, ele novamente estava de volta, gordo, depois de várias sérias contusões, Ronaldo novamente voltava por cima, a explosão de velocidade e um dos momentos antológicos subindo o alambrado do Estádio Eduardo José Farah em Ribeirão Preto ficam na lembrança de todo admirador do jogador.


Fim de jogo em Ibagué, o Deportes Tolima surpreende a todos, faz 2x0 e elimina o Corinthians na Pré-Libertadores, algo inédito no futebol brasileiro. Antes ídolo e nos braços da torcida, o excesso de contusões e as contantes aparições na vida noturna de São Paulo, juntando com a polêmica foto do cigarro com Roberto Carlos em festa dias antes do jogo decisivo, fez o clima entre o Fenômeno e a Fiel balançarem cada vez mais. Dias depois, no dia 14 de Fevereiro, o Corinthians chama uma coletiva de imprensa em sua sede. Ronaldo aparece, como sempre com Nike praticamente estampada na testa, dessa vez o semblante não era de dor física pelas contusões e nem do sorriso das superações, dessa vez a inesquecível imagem não era em campo, era fora dele. Foi para o hipotireoidismo que ele finalmente perdeu a batalha, aos 34 anos. As lágrimas saíam em uma expressão vazia de quem amava o que fazia, os fãs naquela tarde de Fevereiro assistiam as imagens transmitidas in loco pelas emissoras nacionais, do maior ídolo do esporte que tínhamos desde Ayrton Senna e Romário finalmente acabar de forma melancólica sua tão vitoriosa e impressionante carreira. Hoje, se passam quatro anos do fatídico dia, as memórias que ficam são boas, dos grandes momentos e das diversas voltas por cima, um pouco manchadas por atitudes fora de campo, sejam durante a carreira ou até mesmo depois. Mas, não dá para negar a sua importância para todos os jovens que cresciam nos anos 90 e ouviam os gritos orgásmicos de Galvão Bueno: "RRRROOONALDINHOOOO, ÉÉÉÉÉ, DO BRASIIIIILLLL!!"

Nenhum comentário:

Postar um comentário