quarta-feira, 30 de março de 2022

Pelo time que sempre amei!


Na infância com aquela camisa do Beco da Poeira,
importante era o sentimento.
 

No último dia 25 de janeiro, completam-se 25 da minha primeira partida do Fortaleza no estádio. Foi um jogo memorável, diferente do momento que o clube vivia. Eu e um tio, Orlando Júnior, acompanhmos o Leão fazer 7x1 no América, no PV, com show de Sandro Gaúcho que fez gols naquele dia. 

Eu tinha desenvolvido no último ano um gosto por futebol, acompanhava meus primeiros jogos no radinho, entre eles as frustrantes eliminações para o Quixadá no estadual e para o maranhense Sampaio Corrêa na Série C. Só que aquele 1997 parecia diferente, havia um clima de esperança no ar. Jogos duros contra o poderoso campeão brasileiro Grêmio na Copa do Brasil, Frank e Sandro empilhando gols no estadual, mas uma derrota no fim de uma prorrogação nos manteve naquela miséria. 

Os anos se sucederam, lembro de ir ao estádio para jogos dolorosos, um empate contra o Vitória das Tabocas, uma goleada para o Botafogo-PB, o 3x3 do Picos, como esquecer? A emblemática derrota para o Potiguar de Mossoró e o empate contra o Tocantinópolis que chegara de Kombi ao PV, que só não foi pior por conta do gol de um baixinho em campo, um tal de Clodoaldo, ele mudaria muito meus sentimentos como torcedor nos anos seguintes.

Como boa parte dos jovens que cresceram nos anos 90, tínhamos o clube local e mais uns dois, um do Rio de Janeiro e São Paulo. Mas de todos, o Fortaleza sempre foi a preferência, não havia nem discussão. Éramos poucos na escola, só se torcia pelo rival ou para times de fora, parecia que a apaixonante história tricolor estava desaparecendo. 

Tudo muda na virada do milênio. Mas nem sempre foi fácil, caminho arrasador no Primeiro Turno e uma queda nos pênaltis nas semifinais para o Juazeiro, o filme passava todo de novo. Mas não poderia acabar ali, contra o Itapipoca vi o alambrado cair ao peso do torcedor, vi a vingança sobre o Juazeiro no Terceiro Turno e ouvi com o ouvido grudado na caixa de som quase ficando surdo enquanto Júlio Salles gritava o fim do suplício, o gol de Frasson.

Ao lado de Clodoaldo no jantar do título de 2000,
no Marina's Park.

A década de ouro trouxe muitas glórias, veio o bi, depois o tri e o tetra. Quartas-de-Final de Copa do Brasil, semifinal inédita de Copa do Nordeste, três anos na elite, ídolos como Clodoaldo, Vinícius, Erandir, Dude, Rinaldo, Paulo Isidoro e tantos outros que não quero ser injusto e esquecer alguém. Só que faltava algo e o infelizmente o inferno nos chamava de novo.

Estava no Castelão naquele 21 de novembro quando Hugo Almeida virou o jogo em apenas 5 minutos, dez anos depois, estávamos de volta à Série C e pior, no mesmo dia vimos nosso maior rival subir para a Série A depois de 16 anos. Foi um sofrimento dobrado para qualquer tricolor. Chorei sozinho na varanda de uma ex-namorada quando Torrô empatou o jogo para o Águia e nos eliminou. Assisti nos Estados Unidos em uma transmissão pirata com o coração na mão cada segundo do jogo contra o CRB e chorei com o alívio da permanência.

Fui ao PV contra o Oeste e frustrado por não ter ingresso chorei na frente da TV mais uma eliminação, como chorei na arquibancada contra Sampaio Corrêa, Macaé e Brasil de Pelotas. Mas nem tudo foi ruim, não é? Ah, Cassiano! Que momento, aquilo era ser Fortaleza.

Foto antes do jogo contra o Tupi, em Juiz de Fora

Em 2016, veio um dos grandes privilégios da minha vida que foi trabalhar no Fortaleza. Fomos campeões cearenses, muitos projetos lindos, momentos alegres, outros tristes, mas dois momentos marcantes se destacam.

O primeiro foi o dia do não acesso contra o Juventude. Estava em campo, caí no chão molhado, chorei copiosamente por dias. Só na escada do túnel foi uma hora sentado, em silêncio, parecia que tudo estava perdido. Entrar naquele vestiário, que normalmente era tão animado e ali parecia um velório só aumentava minha dor. Não conseguia entender tudo aquilo. 

O segundo veio no dia 23 de setembro de 2017, Juiz de Fora, novamente caí no chão molhado, dessa vez de alegria. Parecia nem ser real, o pesadelo acabava, o fantasma ia embora. O Fortaleza podia finalmente ser ele mesmo de novo e no ano do seu centenário.


Essa próxima parte eu acompanhei boa parte de longe. O tri-campeonato cearense, a Série B, os jogos do Independiente, o título do Nordestão, mas ligado seja com o celular escondido no trabalho ou nas madrugadas em claro com links piratas, o amor sempre falava mais alto. 

Era hora de voltar para casa, depois de 3 anos estava de volta ao Brasil e poucas semanas antes de eu chegar um argentino que eu gostava muito assumia o Fortaleza como técnico, um tal de Juan Pablo Vojvoda. Assim que os estádios foram liberados e eu tive condições, fui matar a saudade. Fui contra Athletico, São Paulo e Palmeiras, mas nada vai superar o sentimento pós-gol de Depietri contra o Juventude. O mesmo Juventude cinco anos antes, no mesmo gol que Hugo Almeida nos mandou para a Série C, em 2009 pelo São Caetano e sete anos depois, dessa vez pelo Juventude nos manteve lá por mais um ano. 


Era a recompensa, não para mim, mas para uma nação que sofreu tanto nas últimas décadas. Para cada jogo contra o Viana, contra o Águia, cada desconfiança, cada vez que nossas organizadas tiveram que ir no treino, com razão ou não, por todos aqueles que deram a vida torcendo, vivendo e ajudando esse clube, essa premiação veio logo nos momentos de ligeira melhora da maior pandemia mundial em cem anos. Tanta gente merecia ver isso, centenas, milhares de torcedores, e sinto-me no dever de gritar e cantar por eles.

Em 8 dias, irei realizar um sonho que aquele menino dos anos 90 nem pensava ser possível. Vou para o Castelão ver o Fortaleza pegar o Colo-Colo, e não o de Ilhéus por uma Copa do Nordeste ou Série C, mas o do Chile, campeão da Libertadores de 1991, não em um amistoso de entrega de faixas, mas pela Libertadores da América. Chegamos lá, e faltam só 8 dias e eu nem acredito. 

Serão 90 minutos de emoção, de lembranças, de muita superação e especialmente de agradecimento por todos aqueles que vieram conosco até aqui. Que deram seu ao menos um pouquinho da sua ajuda, daqueles que nos deixaram e daqueles que acabaram de chegar, que saibamos curtir cada momento. Pode ser um fator único ou o início de uma nova Era, mas sei que será especial de uma forma que nunca mais será. E depois de 25 anos, sinto que é um presente do Fortaleza, e melhor impossível! Obrigado, Leão! Prometo de acompanhar e apoiar com todo meu pulmão e coração.

Fotos: Arquivo Pessoal
Vídeo 1: Paulo Matheus
Vídeo 2: Mairton Fontes

Por Luca Laprovitera
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