terça-feira, 23 de abril de 2019

O MOMENTO CHEGOU

(Foto: Leonardo Medeiros/Fortaleza EC)


Domingo começa a caminhada do Fortaleza na Série A. Será um choque de realidade, nos últimos 10 anos ao menos, o Leão entrava em campo quase sempre como favorito, ao menos em proximidade ou igualidade com seu adversário.

O torcedor agora terá de se acostumar com nova postura, com nova cobrança, com uma nova realidade e não será fácil. Desde que Jorge Mota foi eleito no fim de 2014, junto com Enio Mourão e Evangelista Torquato, foi-se levado um jovem chamado Marcelo Paz como Diretor de Futebol, a partir dali se dava seguinte, firme, em um planejamento de futebol que hoje vemos.
Em 2014, Marcelo Chamusca é contratado pelo Fortaleza. O clube traz nomes experientes como Corrêa e Marcelinho Paraíba, emergentes como Guto, fixa no time principal Walfrido e Edinho, mantém Robert e Waldison. Pela primeira vez vemos o 4-3-3/4-2-4 que hoje estamos acostumados.

Chamusca usava fortemente suas pontas com Edinho e Waldison, além de laterais fortemente ofensivos como Tiago Cametá e Fernandinho, um centroavante mais forte, brigador (e fazedor de gols), além de sempre ter volantes com boa saída. A mudança de Diretoria não mudou a ideia, tanto que Chamusca mesmo sem subir teve seu contrato renovado.

Porém, com proposta do Atlético-GO, o técnico acabou saindo antes mesmo do início da pré-temporada. Nedo Xavier, um técnico mais reativo assumiu. Foi recebendo nomes como Pio, Daniel Sobralense, Wanderson, Everton, Dudu Cearense, mas não conseguiu dar cara ao time, e Chamusca sem sucesso em Goiás, retornou.

O 4-1-4-1, que se tornava um 4-3-3/4-4-2 fez muito sucesso durante o primeiro semestre. Pio e Everton abertos, um volante de mais saída como Vinícius Hess e Corrêa de regista, armando o jogo a partir da defesa. Sobralense jogava mais recuado, como um meia central, muitas vezes na mesma linha de Hess para facilitar o jogo dos pontas, mas sacrificando o centroavante. O jogo mudou com a queda de rendimento de Pio, trazendo Sobralense para a direita, e trazendo Maranhão mais a frente, além de Auremir ganhar a vaga de Hess no meio.

Os times de Chamusca tinham como característica a posse de bola, as triangulações pelas pontas, o forte jogo aéreo nos cruzamentos de Corrêa, Pio e Everton, parece com algo que conhecemos hoje?

Outro ano sem subir e a diretoria aposta em Flávio Araújo. Técnico local, também sem característica de jogo mais "moderno", mas ofensivo, aposta em um meio-campo mais dinâmico e de posse com Corrêa, Dudu Cearense, Daniel Sobralense, Elias e Everton, com Felipe e Jean Mota nas laterais e experiente, mas ágil Anselmo de referência.

O time faz muitos gols, mas também sofre na recomposição e logo os problemas aparecem, forçando a busca por um volante. Com resultados irregulares, Marquinhos Santos chega ao Pici e logo dá nova cara ao time. Fecha um forte linha de 4 e usa o elenco de forma inteligente, defendendo com precisão e usando o meio-campo de ágil contra golpe com perigoso 4-1-4-1 defendendo, onde Juliano fazia frente a zaga, com Dudu Cearense e Jean Mota centralizados, Everton e Juninho nas pontas.

Atacando no 4-2-3-1, subindo Jean como um terceiro homem de meio-campo, tendo sempre opções como Pio, Corrêa e Daniel Sobralense. Com as saídas de Jean e Dudu, o time mudou de forma e de esquema. Corrêa e Daniel voltavam ao time titular. Sobralense se tornou um enganche, com o time defendendo no 4-4-2 e atacante no 4-2-4, com Sobralense na sobra de Anselmo, Juninho (e depois Rodrigo Andrade) e Everton nas pontas, além das chegadas fortes de Corrêa.

Marquinhos sai antes do mata-mata, Hemerson Maria assume e mantém tudo, mas não sobe. Terceiro ano sem subir, crise, eleições conturbadas, Marcelo Paz sai debaixo de críticas da Direção de Futebol, Enio Mourão assume e contratam César Sampaio como Executivo, além da manutenção de Maria no cargo de treinador.

Em 2017, o Fortaleza começa a montar um elenco mais reativo, de jogadores mais focado em um jogo de força do que de técnica. Mesmo assim, Maria fixa o 4-3-3 que nos seguiu por duas temporadas inteiras. Dois pontas velozes, dois volantes saindo pro jogo, um meia central para distribuição e recomposição, dois laterais com força física e presença de área.

Maria não atinge resultados e sai, César Sampaio pede demissão e Marcelo Paz volta ao posto de Diretor de Futebol, Marquinhos retorna, não consegue dar cara ao time e também sai. A Diretoria se desliga, Marcelo Paz assume com Marcello Desidério uma espécie de presidência interina até Luís Eduardo Girão assumir o cargo. Paz se torna o 1º vice.

Paulo Bonamigo chega para a Série C e mantém a forma de jogo. Para ganhar qualidade na saída de bola, improvisa Rodrigo Mancha na zaga, aposta em laterais altos como Felipe e Bruno Melo, no meio, 3 volantes, Pablo para fazer a troca com Felipe pela direita, algo que já acontecia no início do ano com Jefferson. Uchôa como primeiro homem para sair com a bola e Adenilson para maior criação.

O time tinha posse, mas não tinha criatividade, mas tinha ágil contra-golpe e assim fez ótimo primeiro turno. Porém ficou pragmático, quase se complica e Bonamigo cai faltando 3 rodadas para o fim da Primeira Fase. Vem Antônio Carlos Zago que faz apenas uma alteração, sai Adenilson e entra Leandro Lima. O time começa a rodar a bola, segurar o jogo, o 4-3-3 não se torna temeroso, mas eficaz, mesmo sem grandes finalizadores, o Fortaleza assim finalmente sobe.

Sem Zago que decidiu voltar para o Juventude, Paz agora presidente pela renúncia de LEG, mantém o plano de um time dinâmico, moderno, de posse e aposta alto, sem medo, e acerta com Rogério Ceni. O casamento é perfeito, mesmo demorando à engrenar.

O Fortaleza buscava a evolução desse tipo de jogo, buscou jogadores para uma Série B condizentes com essa característica, trouxe o técnico disponível no mercado com maior capacidade de introduzir. As mudanças físicas, táticas, ideológicas que eram pensadas e sonhadas desde 2015 finalmente vão saindo do papel.

O começa é difícil, Ceni demora a achar um esquema, testa 3 zagueiros, 3 volantes, mas é na variação do 4-3-3/4-5-1 que acha o time campeão da Série B de forma arrasadora. Em 2019, o time não demorou tanto a se achar, mas agora irá precisar se redescobrir.

Na Série A tem a missão de manter essa identidade de jogo de pé em pé, do toque de bola, da velocidade, mas com maior cuidado com a defesa, o 4-2-4 que vimos lá em 2014 e hoje voltou a evidência, não com um meia mais ofensivo como Marcelinho Paraíba que jogava como um segundo atacante, mas com Júnior Santos e sua velocidade auxiliado por pontas construtivos como Osvaldo e Edinho, ou até mesmo afrontosos como Marcinho, terá a opção mais a frente de um 9 mais fixo e guerreiro como Wellington Paulista ou veloz e infiltrador como Kieza.

As laterais continuam altas, ou com Tinga e o possível retorno de Bruno Melo, ou ao menos com a boa impulsão de Carlinhos. Os volantes que jogam de lateral e até ponta, sempre de boa saída como Felipe, Araruna, Gabriel Dias ou Paulo Roberto, até mesmo Dodô ou Marlon. A posse de bola de 60-70% não irá aparecer na boa maioria dos jogos, o time irá "sofrer" como dizemos no futebol.

De fato iremos ver um Fortaleza novo, mas que já vimos, uma repaginada do nosso velho conteúdo com o melhor escritor possível. Nas mãos de Ceni teremos uma nova obra, de velhas novidades, mas que encanta e que terá o compromisso de fazer orgulho, independente do resultado, desde que se jogue para cima, como Fortaleza, com raça, com a identidade que os mais velhos viam nos times dos anos 70 com Moésio Gomes em o quarteto de ouro, ou da Jangada Atômica de Ferdinando no início da década passada, mesmo que jogue se defendendo, jogando para frente, um time que não joga só com resultado e sim com ideias.

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Um agradecimento pela luta dos últimos 10 anos. Time de guerreiros!


Sei que tem uma final pelo meio, mas é difícil não pensar no que vem pela frente, por tudo que passamos nesse caminho tortuoso, doloroso, longo, mas que nos tornou ainda mais apaixonados. 

Foram quase dez anos entre a primeira foto e o que vai acontecer no próximo dia 28 de abril. Foram exaustivos 3.445 dias passados, entre o desespero e o sonho. Em uma década que muitos pensavam que íamos apequenar, mas crescemos, renascemos das cinzas como uma Fênix, ave mitológica, que se não fosse o tão enraizado Leão, cairia como uma luva para representar o Fortaleza Esporte Clube. 

Hoje só quero fazer algo que queria fazer à um bom tempo. Gostaria apenas agradecer todos que fizeram parte disso. Podem pensar: "Agradecer? Tá louco!?". Talvez um pouco, ou talvez os anos que lá dentro passei me mostraram algo diferente do que como torcedor eu era acostumado. 

Desde cedo a imprensa nos vende o futebol como produto de mídia, cheio de heróis, vilões e claro, todos compramos a narrativa, afinal como não vilanizar aquele zagueiro que não subiu com o atacante adversário e nos custou o título? Ou o árbitro que não marcou o pênalti da classificação? Como não idolatrar o centroavante que fuzilou as redes para um heroico acesso? Como não? O futebol é cheio de céus e infernos. 

Com o tempo, vivendo esse clima você aprende que todo mundo ali é um herói. Cada atleta, cada funcionário tem sua história, cada um é herói dela. Lesões, perdas, abdicações, é a vida no futebol é dura e passa longe do glamour que é vendida. É uma vida onde se lida muito mas com o fracasso do que com a glória. Um ano de alegrias vai por água abaixo por conta de 1 segundo, de um passo em falso, um momento mal calculado. 

Nesse tempo mais de 200 jogadores vestiram a camisa tricolor. 25 treinadores sentaram no banco de reservas, entre oficiais e interinos, além de 8 presidentes. Nomes ilustres e imortais como Fernando Coração de Leão, Salvino, Manoelzinho, Raimundo Arraes, Dona Marizinha, Zé Candido Fontenele, Roberto Studart, Tia Mara, tantos outros apaixonados e ilustres tricolores nos deixaram nesse período e nos deixaram um bocado órfãos. 

Tanta coisa mudou, até mesmo nosso amor pelo Fortaleza. Mesmo em meio a tanto sofrimento, ele cresceu. Cresceu de uma forma que ninguém imaginava. Nossa torcida fiel ficou ainda mais, liderou médias de público, teve recorde de presença no país em mais de um ano. As belas festas ficaram profissionais e os mosaicos ficaram conhecidos mundo afora. O PV, nossa casa acabou ficando pequeno para o nosso tamanho. O Pici, nosso lar, deixou de ser estádio e está virando um Centro de Excelência. 

Evito dizer que fracassamos, apenas maturamos, criamos consciência e nutrimos nossa paixão para o momento certo. O tempo que se dizia perdido, aos poucos, com trabalho bem feito vem se recuperando, porque o futebol é assim, cíclico, de altos e baixos. Se um dia estivemos aquém, iremos além!

Por fim, gostaria apenas de agradecer cada torcedor, funcionário, atleta, dirigente, subindo ou não, tendo uma passagem marcante pela torcida ou apenas tendo o prazer de dividir por algum tempo esse amor conosco, cada um teve sua importância, cada um veio com desejo de subir, mas nem sempre é como queremos, tudo tem seu tempo. 

Muito obrigado pela luta, pela garra, nos desculpem pelas críticas, vaias, pelos xingamentos, por taxarem de vendidos ou fracados, ninguém nesse clube jamais será merecedor de alcunhas como essas últimas, viver o Fortaleza já te faz um vencedor, mas são dores de torcedor. Independe do que venha no Clássico, seja título ou não. De como jogaremos durante a Série A, já somos vencedores, e unidos vamos continuar mostrando isto à todos, só dependemos de nós!

Por Luca Laprovitera