Na língua inglesa existe uma palavra, melhor, uma expressão chamada "Outcast", para aqueles que não se enquadram em algum grupo social, os excluídos, os diferentes, os renegados.
Para descrever o Fortaleza podemos usar várias expressões, mas a que mais usamos é superação. O clube renasceu para brilhar após seus piores momentos. Foi assim nos anos 40, quando passou 7 anos sem títulos para ser campeão estadual invicto e do Nordeste em 1946.
Foi assim ao vencer o rival três vezes em uma semana em 1974, ou depois de quase nove anos montar uma esquadrão e ser bicampeão em 1982 e 1983. Ressurgiu das cinzas em 2000, superou apenas 2% de possibilidades em 2004, salvou-se de um provável rebaixamento em 2008, tornou um 4x1 em 4x4 e título. Viveu infernais oito anos na C, para no ano de maior desconfiança subir e em menos de duas temporadas conquistar a Série B e a Copa do Nordeste.
Porque o Fortaleza se supera tanto? De onde sai tanta resiliência para vencer tantos obstáculos em mais de 100 anos de história? Para saber vencer, é preciso primeiro saber perder e isso que traz tanta beleza e paixão neste clube.
Ao longo de sua história, seus principais heróis foram renegados, rebaixados, questionados e deram a volta por cima, criaram a mística daquelas camisas. Sapenha, por vinte anos titular do Fortaleza foi diversas vezes duvidado pelo gosto da vida boêmia, no fim de sua carreira foi titular do título estadual e regional, além do vice da Taça Brasil, em 1960.
O baixinho Clodoaldo, negado pelo rival pela estatura, virou um dos maiores jogadores de todos os tempos do nosso futebol. Mozart quase aposentado por lesão, ainda brilhou nos anos 60 pelo Leão do Pici. Denilson, Maizena, Daniel Frasson, onde alguns davam como acabados para o futebol, vitais na reconstrução do clube nos anos 2000.
Rinaldo, que chegou sem muito alarde, com certa desconfiança, foi herói tricolor e fez mais de 100 gols com essa camisa. Gustavo, criticado pela má fase antes do clube, voltou no Pici a ser Gustagol, artilheiro do Brasil.
E 2019 temos várias peças assim. Rogério Ceni, um dos maiores goleiros do país, demitido e diminuído pela direção do clube em que fez vida, como ele mesmo diz: "reviveu para o futebol" no Fortaleza. Marcelo Boeck, sobrevivente na Chapecoense, ídolo no Pici. Marcelo Paz, tão criticado como Diretor de Futebol, saiu abaixo de xingamentos de torcedores em 2016 após novamente não subirmos, se torna um dos maiores presidentes da história do clube. Romarinho, xingado, vendido, humilhado, hoje exaltado, guerreiro, nunca abaixou a cabeça.
Como esquecer da tão leal e fiel torcida? 8 anos sofrendo, mas nunca abandonando e a cada ano crescendo. Fez do seu purgatório aprendizado, viu do seu sofrimento uma prova de amor e unida colhe os frutos de sua paciência. Até onde vai o limite do Fortaleza dos renegados? Não sabemos, mas enquanto houver humildade, paixão e vontade de vencer, o céu será o limite.